Como lidar com isto? A ausência de sentimentos?
Chegou o momento de lidar com aquela situação que imaginei tantos anos, mil e uma vezes na minha cabeça...
Imaginei que não ia chorar, não ia sentir fosse o que fosse...
Já chorei ... portanto acho que posso dizer que não tenho uma total ausência de sentimentos ... afinal não tenho assim um muro tão alto à minha volta ...
Sempre me perguntei se estarias vivo ou morto, acho que te preferia imaginar já teres partido, sabes?
Mesmo assim, não imaginei que fosse chegar o dia e que alguém me dissesse que tinhas acabado de partir...
Porque me haveriam de avisar? Porque é que isso me interessaria?
Eu nunca te conheci, não tenho sequer imagem tua, cheiro... NADA ... apenas um nome ...
Sei aquilo que poderias ter sido para mim, sei aquilo que DEVERIAS ter sido para mim, mas não foste...
Sempre senti falta disso, eu deveria ter tido momentos contigo, deveria ter tido o teu colo, o teu carinho, o teu amor ... mas não tive ...
Culpa? Não, não sinto culpa... a culpa não é, nem nunca foi minha ... vocês os adultos é que tiveram culpa, tu também tens a tua ...
Imaginei muitas vezes que me procuravas ... mas nunca o fizeste ... se calhar (contam a história), provavelmente nem sequer chegas-te a saber da minha existência ... por isso não me procuras-te... mas tinhas quem mais procurar e não o fizeste... porque procurarias por mim se soubesses da minha existência.
Não fui diferente dos outros ...
Chorei à pouco, mas não porque partiste, não chorei por ti ...
Chorei talvez, porque sei que agora ... agora sim, não espero mais que me procures, não vale a pena procurar-te ... não existiu e não vai mais haver ligação entre nós ...
Ao mesmo tempo, chorei porque sei que não faço nem nunca farei aos meus filhos e netos aquilo que me fizeram a mim e que me levaram a sentir o que sinto neste momento ...
Não vou privá-los de conhecerem o sangue do seu sangue só porque sim, as crianças não são culpadas de nada ... Vão sempre conhecer, brincar, amar e ter colo dos seus avós.
Vão poder passar na rua e saber ... saber que aquele senhor ali à frente é o avô e a avó, correr para eles, lançarem-se ao seu pescoço ... tomarem o seu lugar devido de netos, o seu colo por direito.
Saber que o avô e avó de cá cheiram a Old Spice e Pão Alentejano, o avô e a avó de lá cheiram a oficina e campo.
E eu? ... Eu sei que não te devo procurar mais, porque acabaste de partir... é só!!!
Resta-me continuar a alegrar-me por ter tido do outro reverso da medalha o melhor avô do mundo ... e não foste tu!!!
Chegou o momento de lidar com aquela situação que imaginei tantos anos, mil e uma vezes na minha cabeça...
Imaginei que não ia chorar, não ia sentir fosse o que fosse...
Já chorei ... portanto acho que posso dizer que não tenho uma total ausência de sentimentos ... afinal não tenho assim um muro tão alto à minha volta ...
Sempre me perguntei se estarias vivo ou morto, acho que te preferia imaginar já teres partido, sabes?
Mesmo assim, não imaginei que fosse chegar o dia e que alguém me dissesse que tinhas acabado de partir...
Porque me haveriam de avisar? Porque é que isso me interessaria?
Eu nunca te conheci, não tenho sequer imagem tua, cheiro... NADA ... apenas um nome ...
Sei aquilo que poderias ter sido para mim, sei aquilo que DEVERIAS ter sido para mim, mas não foste...
Sempre senti falta disso, eu deveria ter tido momentos contigo, deveria ter tido o teu colo, o teu carinho, o teu amor ... mas não tive ...
Culpa? Não, não sinto culpa... a culpa não é, nem nunca foi minha ... vocês os adultos é que tiveram culpa, tu também tens a tua ...
Imaginei muitas vezes que me procuravas ... mas nunca o fizeste ... se calhar (contam a história), provavelmente nem sequer chegas-te a saber da minha existência ... por isso não me procuras-te... mas tinhas quem mais procurar e não o fizeste... porque procurarias por mim se soubesses da minha existência.
Não fui diferente dos outros ...
Chorei à pouco, mas não porque partiste, não chorei por ti ...
Chorei talvez, porque sei que agora ... agora sim, não espero mais que me procures, não vale a pena procurar-te ... não existiu e não vai mais haver ligação entre nós ...
Ao mesmo tempo, chorei porque sei que não faço nem nunca farei aos meus filhos e netos aquilo que me fizeram a mim e que me levaram a sentir o que sinto neste momento ...
Não vou privá-los de conhecerem o sangue do seu sangue só porque sim, as crianças não são culpadas de nada ... Vão sempre conhecer, brincar, amar e ter colo dos seus avós.
Vão poder passar na rua e saber ... saber que aquele senhor ali à frente é o avô e a avó, correr para eles, lançarem-se ao seu pescoço ... tomarem o seu lugar devido de netos, o seu colo por direito.
Saber que o avô e avó de cá cheiram a Old Spice e Pão Alentejano, o avô e a avó de lá cheiram a oficina e campo.
E eu? ... Eu sei que não te devo procurar mais, porque acabaste de partir... é só!!!
Resta-me continuar a alegrar-me por ter tido do outro reverso da medalha o melhor avô do mundo ... e não foste tu!!!
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